O ÍNDICE CEFÁLICO DO FILA BRASILEIRO
(A diversidade de interpretações do padrão rácico oficial relativos a cabeça da Raça Fila Brasileiro.)
Harrison da Costa Pinho / Carlos Charalambe Panagiotidis
RESUMO
O presente artigo visa construir índice cefálico da Raça Fila Brasileiro através da análise e interpretação dos dados coletados pela antropometria. A pesquisa aqui apresentada constitui-se em pesquisa experimental, documental e bibliográfica, oferecendo-se ao meio cinófilo, em especial aos criadores, árbitros e apreciadores da raça como instrumento teórico-prático. Para a construção do problema e da hipótese foi utilizado o método indutivo, que consiste em observar fatos particulares a serem estudados e como eles se apresentam na realidade, para formular hipóteses e descobrir quais são os princípios ou leis que os regem e que podem, se aplicados a outros, serem explicados. Na experimentação foi utilizado o método da craniometria em cães, que consiste na medida das características do crânio e da cabeça como um todo, a partir do estabelecimento prévio dos pontos de medidas, com a utilização de equipamentos específicos, de modo a classificar e agrupar diferentes raças. Foram exumados e medidos 7 crânios de exemplares da raça e, medidos 41 animais vivos. Na análise e interpretação das fontes consultadas e dos dados coletados, foi utilizado o método científico dedutivo, que consiste na decomposição de um valor geral já conhecido, para se chegar a um valor que depende do valor anterior. Para a conclusão da presente pesquisa, foi utilizado o método da recomposição do que foi decomposto pela análise dos documentos e dos dados coletados. O referencial teórico adotado na presente pesquisa é o da racionalidade técnica. O tipo da cabeça do Fila Brasileiro classifica-se como mesaticéfalo.
PALAVRAS-CHAVE
Fila Brasileiro. Índice Cefálico. Craniometria. i
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Harrison da Costa Pinho é empresário, formando em Teologia, cinófilo desde 1985, criador da Raça Fila Brasileiro, tendo produzido inúmeros campeões e grande campeões. Atuou como árbitro em exposições informais no Brasil e no exterior, além de ter sido conselheiro do Kennel Clube do Estado do Ceará. Membro do Conselho Brasileiro da Raça Fila Brasileiro desde 2010 e em 2003. Endereço eletrônico para contato: harrisonpinho850@hotmail.com Carlos Charalambe Panagiotidis é professor universitário aposentado. Graduado em História. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Além da docência, atuou como orientador de projetos de pesquisa e supervisor de estágios curriculares. Cinófilo desde 1978, criou a Raça Fila Brasileiro durante 26 anos, produzindo diversos campeões. Concomitantemente à criação da raça Fila, criou também, a raça Beagle durante 10 anos. Membro do Conselho Brasileiro da Raça Fila Brasileiro entre 1998 e 2001. Membro do quadro de árbitros da CBKC/FCI desde 1994. Árbitro de todas as raças (All Rounder) desde 2001. Endereço eletrônico para contato: kakodebrasilia@uol.com.br
Fortaleza (CE), Brasil, maio de 2017.
_____________________________________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO
A cabeça é a parte mais importante, complexa e especializada do arcabouço ósseo da espécie canina. Ela abriga o encéfalo e os órgãos sensoriais: da audição e visão, do equilíbrio e olfato, da gustação, além de órgãos dos sistemas respiratório e digestório. Os cães apresentam uma grande variedade de raças, o que se reflete em uma diversidade de formatos de cabeças. Cinotecnicamente a cabeça constitui-se na extremidade superior da porção axial do arcabouço ósseo, dividida em duas regiões: crânio e focinho. A cabeça possui formatos e tamanhos característicos a cada raça canina, contudo, existem diferenças individuais. O formato do crânio e sua relação com o focinho, tornamse um dos critérios mais importantes para se estabelecer o “Tipo Racial”. Em relação à Raça Fila Brasileiro, as diferenças individuais são evidentes, levando criadores e árbitros à interpretações das mais variadas. O Padrão Rácico Oficial, atualmente vigente, é o Padrão 225 CBKC/FCI, de 04/10/2016, e este, serve de referencial na avaliação e seleção de cães da Raça Fila Brasileiro. O Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC sugere a árbitros e criadores a importância do conhecimento das regiões da cabeça para melhor interpretação e compreensão da descrição racial, da seguinte forma:
“ Todo o exterior do cão é dividido em áreas particularmente delimitadas, conhecidas como regiões (…) e que recebem uma denominação que, em cinofilia, nem sempre coincide com a estabelecida pela nômina anatômica, algumas delas são de grande importância, tais como os olhos, orelhas, língua, trufa (nariz) e pelos, os quais serão abordados de maneira particular. Para uma correta interpretação dos padrões é necessário um conhecimento dessas regiões e órgãos, bem como suas peculiaridades nas diferentes raças e/ou individualmente.”. (Manual de Estrutura e Dinâmica CBKC. RJ.2013. p.35).
Diante da diversidade de fenótipos das diferentes raças caninas e das diferenças individuais dentro da Raça Fila Brasileiro relativas à cabeça, o foco da pesquisa não foi exclusivamente estético, pelo contrário, buscou compreender que significados na descrição racial oficial da cabeça, tem implicações fundamentais no exercício do trabalho específico da raça e nas mudanças de direção do movimento de locomoção. Desta forma, o fundamental foi compreender a funcionalidade da cabeça para além das funções dos órgãos nela contidos.
O presente artigo visa construir índice cefálico em crânios exumados e indivíduos vivos, através da análise e interpretação dos dados coletados pela antropometria, compreendendo a descrição racial oficial pelo estudo da evolução dos padrões raciais oficiais. A problematização apresentada no subtítulo da presente pesquisa torna-se relevante para o meio cinófilo na medida em que, compreendendo o significado da pesquisa como investigação, os autores propuseram-se a seguir os mais rigorosos procedimentos de produção de conhecimento científico, assim concebido:
“ O conhecimento científico é aquele que vai além das experiências individuais sobre os fatos e usa a observação sistemática e a busca reflexiva das razões e das leis que determinam os fatos. O conhecimento científico fundamenta-se em princípios gerais válidos para todos os fatos para comprovar suas verdades, usando procedimentos de investigação que se firmaram como os mais eficientes, 3 sendo por isso denominados métodos científicos”. (MARTINS. 2002. p.62).
Nessa perspectiva, a hipótese construída foi: Se o padrão rácico oficial atual da Raça Fila Brasileiro descreve a relação crânio-focinho como aproximadamente 1:1, sendo o focinho ligeiramente menor que o crânio, com mordedura em tesoura, então, pode o Fila Brasileiro não ser um braquicéfalo como descrevia o primeiro padrão rácico oficial que também estabelecia a mordedura em tesoura.
Dentre as principais descobertas da pesquisa estão a desconstrução de mitos rácicos relevantes e a comprovação da funcionalidade da cabeça no exercício do efetivo trabalho do Fila Brasileiro.
MATERIAIS E MÉTODOS
O referencial teórico adotado na presente pesquisa é o da racionalidade técnica, portanto, seguiu rigorosamente a imparcialidade, a impessoalidade e a objetividade do conhecimento técnico-científico. A pesquisa aqui apresentada constitui-se em pesquisa experimental, documental e bibliográfica, oferecendo-se ao meio cinófilo, em especial aos criadores, árbitros e apreciadores da Raça Fila Brasileiro como instrumento teóricoprático. Para a construção do problema e da hipótese foi utilizado o método indutivo, que consiste em observar fatos particulares a serem estudados e como eles se apresentam na realidade, para formular hipóteses e descobrir quais são os princípios ou leis que os regem e que podem, se aplicados a outros, serem explicados. Na experimentação foi utilizado o método da craniometria em cães, que consiste na medida das características do crânio e da cabeça como um todo, a partir do estabelecimento prévio dos pontos de medidas, com a utilização de equipamentos específicos, de modo a classificar e agrupar diferentes raças. Na análise e interpretação das fontes consultadas e dos dados coletados, foi utilizado o método científico dedutivo, que consiste na decomposição de um valor geral já conhecido, para se chegar a um valor que depende do valor anterior. Para a conclusão da presente pesquisa, foi utilizado o método da recomposição do que foi decomposto pela análise dos documentos e dos dados coletados.
Inicialmente, a pesquisa foi dividida em duas etapas: a primeira, de estudo de todos os Padrões da Raça, identificando as alterações ocorridas ao longo do tempo, além da leitura técnico-exploratória das referências bibliográficas constantes no presente artigo, utilizando a técnica de fichamentos das obras e construção de deduções parciais; a segunda etapa, consistiu na experimentação dos referenciais teóricos através da metodologia da craniometria. A partir de critérios e pontos antropométricos previamente estabelecidos pela morfometria em cães, a medição dos crânios e das cabeças de indivíduos adultos, com mais de 18 meses de idade, da Raça Fila Brasileiro seguiu a definição de Índice Cefálico, assim expresso no Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC.
“INDICE CEFÁLICO. O tipo de cabeça das diferentes raças varia muito. Com o objetivo de simplificar o estudo, a biotipologia baseia-se em medidas (diâmetros) e suas combinações (índices) a fim de poder agrupar o maior número possível delas em um número mínimo de similares, possibilitando, assim, um estudo global das características comuns. Relativamente à cabeça, são de interesse dois diâmetros 4 – Diâmetro longitudinal: equivale ao comprimento total da cabeça e é a medida que vai do occipital à ponta do focinho. – Diâmetro transversal: equivale à largura máxima da cabeça e é medida entre a projeção máxima de cada arco zigomático; é chamado de diâmetro bi zigomático. O índice cefálico é a combinação dessas duas medidas e é calculado pela fórmula: IC = largura (diâmetro transversal) x 100, dividido pelo comprimento (diâmetro longitudinal). Assim, o índice cefálico será menor quanto mais comprida e estreita for a cabeça e, por outro lado, tanto maior quanto mais larga e curta ela o for. As raças que necessitam desenvolver grandes velocidades possuem, em geral, cabeças estreitas, compridas e bem afastadas do corpo e, portanto, com menores índices cefálicos; já aquelas que necessitam de grande estabilidade, apresentam, geralmente, cabeças curtas, largas e mais próximas ao corpo e, consequentemente, maiores índices cefálicos. As alterações na cabeça não têm significado meramente estético, muito pelo contrário, têm implicações fundamentais no exercício do trabalho específico da raça e nas mudanças de direção do movimento.”. (Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC.RJ.2013. p. 35 e 36).
Além do comprimento total da cabeça, foi estabelecido o comprimento do crânio, medido do occipital até o “stop” e o comprimento do focinho, medido do “stop” até a ponta do focinho. Nos cães vivos, a ponta do focinho corresponde a ponta da narina. Nos crânios exumados a ponta do focinho corresponde, segundo as pesquisas acadêmicocientíficas já consagradas, ao próstio, ou seja, a extremidade rostral da sutura interincisiva, entre as raízes dos dentes incisivos superiores centrais. Nos crânios exumados foram medidos, apenas, o comprimento total da cabeça, do occipital ao próstio e a largura máxima, entre os arcos zigomáticos.
Figura 1. Crânio da Raça Fila Brasileiro.
Acervo fotográfico dos autores. A exumação de esqueletos de cães falecidos foi necessária para a aplicação da metodologia da craniometria. Foram exumados 7 crânios de exemplares da Raça Fila Brasileiro, e este quantitativo de crânios, encontra-se na média do que os principais centros acadêmico-científicos, pelo mundo, têm se utilizado para a classificação do “Tipo” de crânios em caninos, incluindo os referenciais quantitativos.
O ponto de encontro dos dois ossos frontais com os dois ossos nasais denominase “stop”, desta forma, “O encontro da testa com a linha superior do focinho forma um ângulo, cujo ápice é denominado “stop”.”. (Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC. RJ.2013. p. 41).
A largura do focinho, nos cães vivos, foi medida em três pontos: na raiz, na porção mediana e na porção anterior, acima das narinas. A profundidade do focinho foi medida na raiz, considerando o lábio superior e outra medida, considerando a mandíbula com o cão de boca fechada pois,
“ O focinho constitui a porção mais anterior da cabeça e projeta-se adiante do crânio, possuindo três eixos: – Eixo longitudinal ou comprimento do focinho: é a medida que vai da raiz do focinho (“stop”) à ponta do mesmo; – Eixo transversal ou largura do focinho: é a medida determinada na altura dos caninos, constituindo a distância entre os caninos; – Eixo vertical ou altura do focinho: é a medida que vai da cana nasal à parte inferior da mandíbula, na sua região mais volumosa. Regiões do Focinho. O focinho possui as seguintes regiões: – Raiz do focinho: é a região na qual se faz a união do crânio com o focinho. – Cana nasal ou linha superior do focinho: constituída quase que exclusivamente pelos ossos nasais, sendo a parte superior deles. – Anterior do focinho: é a porção frontal do focinho e o seu ponto extremo, onde se situa o “nariz” ou trufa nasal. A porção mais projetada da trufa nasal denomina-se ponta do focinho. – Mandíbula ou linha inferior do focinho: é a porção inferior do focinho, sendo constituída pelo osso que lhe dá o nome (mandíbula). – Laterais do focinho: são as duas faces, sendo uma de cada lado do focinho; são constituídas pelo maxilar superior, pelos lábios e bochechas de cada lateral. Raiz do Focinho A raiz do focinho é a porção de maior diâmetro do focinho. Muitas vezes esta junção se faz de forma quase que imperceptível, gradualmente (nos dolicocéfalos), mas na maioria das vezes é bem evidente. Pode ser abrupta ou suave, sendo que essa última geralmente proporciona o que os padrões denominam de “bom cinzelamento abaixo dos olhos”. “ (Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC. RJ.2013. p. 63).
Além das medidas da cabeça, o experimento coletou medidas da altura e comprimento dos cães vivos, como coleta de dados complementares a possíveis conclusões. Houve uma avaliação qualitativa dos cães vivos, ou seja, um julgamento técnico dos exemplares medidos, comparando-os com a descrição do Padrão Oficial da Raça, seguindo as normas cinotécnicas.
A coleta dos dados levou em consideração a existência de diversas linhas de sangue, das diversas regiões do País. O sexo dos animais selecionados não foi levado em consideração, por não ser objetivo da pesquisa o dimorfismo sexual.
Para a medição das cabeças foi utilizado paquímetro digital, pela maior precisão deste equipamento e para a medição das alturas e comprimentos dos indivíduos foi utilizada trena manual de alumínio, com duas hastes. Para o registro dos dados coletados, assim como a definição dos pontos de medição, foi elaborada a planilha, constante no apêndice 1 do presente artigo, usada para cada indivíduo medido.
Figura 2. Pontos de medição em indivíduos vivos. Acervo fotográfico dos autores.
Seguindo o rigor técnico na qualificação das fontes de consulta, os pesquisadores selecionaram importantes estudos científicos a respeito da craniometria em cães como o artigo científico de (SCHIMMING & PINTO E SILVA, 2013) e a dissertação de mestrado de (HOFMANN-APPOLLO, 2009).
Ambos trabalhos acadêmicos citados acima, constantes nas referências bibliográficas do presente artigo, coincidem em seus referenciais teóricos e práticos, além das suas abordagens com o Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC, mostrando-se coerentes entre si no que diz respeito à classificação das cabeças de cães em: Dolicocéfalos, Mesaticéfalos e Braquicéfalos. Ainda com relação aos trabalhos acadêmicos, ambos se referem ao importante trabalho acadêmico-científico de (STOCKARD, C.R., 1941).
STOCKARD é, ainda, referência nos estudos sobre craniometria em cães, sendo o primeiro a construir a fórmula de cálculo do índice cefálico e de classificação das cabeças dos cães em: Dolicocéfalos, Mesaticéfalos e Braquicéfalos constante do Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC e dos estudos científicos atuais. Portanto, antes do primeiro padrão racial oficial do Fila Brasileiro, já existia a classificação supracitada e a técnica de cálculo do índice cefálico. Os índices e seus limites serão apresentados mais adiante.
Fig. 3 – MACHADO, Thaís Fernanda S., FERRIGNO, Cássio Ricardo A., STOPIGLIA, Ângelo João, PINTO, Ana Carolina B.C.F. Revisão anatômica do seio venoso sagital dorsal no crânio de cães braquicéfalos. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade de São Paulo (USP). Brasil Pesq. Vet. Bras. vol.27 no.5 Rio de Janeiro May 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2007000500002
Na figura 3, observa-se o prognatismo e o stop bem marcado no crânio braquicéfalo à esquerda. Esse estudo, (MACHADO; FERRIGNO; STOPIGLIA & PINTO, 2007) utilizou-se de 8 crânios da Raça Boxer, confirmando que a mesma se constitui como uma raça com cabeça tipicamente braquicéfala, onde o IC (índice cefálico) encontrado foi 91,24 ±8,34 mm. Os referenciais utilizados foram os mesmos de (STOCKARD,1941) e (HOFMANN-APPOLLO, 2009).
Apesar de existir outra classificação das cabeças caninas, muito difundida na cinofilia, qual seja: graióides, lupóides, bracóides e molossóides, segundo o Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC, p.38, “ Tal classificação não é considerada tão precisa quanto a anteriormente apresentada, uma vez que peca por somente enquadrar as cabeças absolutamente típicas em cada agrupamento”. Assim sendo, esta classificação não foi considerada na presente pesquisa.
A identidade dos cães e dos canis visitados para a coleta de dados, foram omitidas pelo presente artigo, respeitando o princípio da ética na pesquisa.
SEÇÃO 1 ESTUDO COMPARATIVO DAS DESCRIÇÕES DA CABEÇA DO FILA BRASILEIRO PELOS DIVERSOS PADRÕES OFICIAIS AO LONGO DO TEMPO
Esta seção pretende compreender as variações das descrições da cabeça do Fila Brasileiro ao longo do tempo, pelo estudo comparativo dos padrões oficiais de 1946, de 1976, de 1984 e o atualmente vigente, o de 2016. Para tanto, a presente pesquisa apropriou-se do método científico comparativo, que consiste na confrontação de fatos, 8 por analogia ou equivalência, para descobrir suas diferenças ou igualdades e poder identificar suas características particulares.
O Primeiro Padrão Oficial de 1946 elaborado pelos Drs. Paulo Santos Cruz, Erwin Waldemar Rathsam e João Ebner, aprovado pelo BKC (Brasil Kennel Club) descrevia a cabeça do Fila Brasileiro da seguinte forma:
“CABEÇA: Sempre grande e pesada em relação ao corpo, de aspecto quadrado e maciço, tipicamente braquicéfala. Crânio grande e largo, estreitando um tanto abruptamente ao iniciar-se o focinho. Depressão frontal (Stop), visto de frente, é praticamente inexistente, continuando, em sulco, que se estende, longitudinalmente, até, mais ou menos, a metade do crânio. De perfil, a depressão frontal é bastante nítida, formada que é pelas arcadas superciliares. Protuberância occipital bem pronunciada. Focinho forte, largo, mais curto do que o crânio, mas sempre em harmonia com este. De grande profundidade em toda a extensão, terminando em linha quase perpendicular. Lábios superiores grossos, flácidos e pendentes, sobrepondo-se aos inferiores, dando ao focinho aspecto quadrado, típico dos molossóides. Lábios inferiores firmes na ponta do maxilar, porém soltos nos lados, onde têm bordos denteados. Dentes fortes, brancos. Caninos bem afastados. Incisivos superiores largos na raiz e estreitos na ponta. Mordedura em tesoura. Narinas largas, bem desenvolvidas, ocupando grande parte da frente do maxilar superior. De cor negra exceto nos cães de pelagem chocolate, marrom, ou de fundo branco com malhas dessas cores, nos quais o nariz de coloração marrom é permitido.
OLHOS: Tamanho médio, ligeiramente amendoados, bem afastados e profundos, de coloração escura. Devido à pele solta, muitos exemplares apresentam pálpebras caídas, detalhe que não deve ser considerado falta, pois aumenta o aspecto triste do olhar, típico da raça.
ORELHAS: Grandes, em forma de “V”, inseridas na parte mais posterior do crânio. Em consequência da pele solta, a inserção de sua raiz é variável. Quando o cão em atenção, a inserção é alta, atingindo a linha superior do crânio; estando o cão em repouso, a raiz é baixa, dobrando-se a orelha para trás, de modo a verse o seu interior. São permitidas as orelhas caídas de cada lado (“orelhas de molosso “) e as dobradas para trás e para cima (“orelhas de rosa“).”. (VALLE, & MONTE. O Grande Livro do Fila Brasileiro (Quatro Séculos da História do Brasil). Editora Brassels-wallace. RJ. 1981. páginas 73 a 75).
Algumas características presentes nesse primeiro Padrão, chamaram a atenção dos autores do presente artigo, especialmente quanto à tipificação da cabeça do Fila Brasileiro como braquicéfala com mordedura em tesoura. Outros aspectos característicos como os relacionados ao focinho de grande profundidade em toda sua extensão e de aspecto quadrado, típico dos molossóides, presente no primeiro padrão, propiciado pelos lábios superiores grossos, flácidos e pendentes, estarão presentes no padrão de 76, diferindo na referência à figura geométrica do primeiro. A tipificação do Fila Brasileiro como um molosso, entretanto, é clara e evidente, como a compreensão do contexto social dos anos 40 aos anos 70 do século passado, que permitia coloração diversa da trufa, mas, exigia coloração escura para os olhos na década de 40 e flexibilizava essa coloração na década de 70. Essas questões serão aprofundadas mais adiante.
Em 1976, o então BKC ( Brasil Kennel Clube), organizou o 1º Simpósio da Raça em Brasília. Do referido Simpósio resultou novo padrão oficial, referendado pelo Conselho Federal do BKC em 14.05.1976. O padrão oficial de 1976, assim descreveu a cabeça do Fila Brasileiro:
“CABEÇA- Sempre grande, pesada, de aspecto trapezoidal. O crânio aproximase do quadrado. O comprimento do focinho é de 40% do comprimento total da cabeça, ou seja, 1 por 1 e meio. Face enrugada.
CRÂNIO- Grande, largo, estreitando-se ao iniciar-se o focinho, o qual deverá ser poderoso e largo.
DEPRESSÃO FRONTAL (STOP)- Visto de frente, muito pequeno, praticamente inexistente, prosseguindo em sulco até o meio do crânio. Visto de lado apresenta-se bem marcado, formado que é pelas arcadas superciliares. Occipital protuso, notadamente nos filhotes, destacando-se bem da nuca.
FOCINHO- Forte, largo, muito profundo, sempre em harmonia com o crânio. Linha anterior próxima da vertical, com ampla curva dos lábios superiores que, flácidos, grossos e pendentes, sobrepõem-se aos inferiores, dando ao focinho sua sempre grande profundidade e definindo-lhe a linha inferior. Lábios inferiores firmes na ponta do maxilar, porém soltos na região da comissura labial, onde terão bordas denteadas. A linha superior é reta, admitindo-se ligeiro desvio descendente no trecho do septo ( “nariz romano”). Visto de frente, deve o focinho apresentar curva ampla e suave, garantindo boa implantação das raízes dentárias.
NARIZ- Narinas largas, bem desenvolvidas, ocupando grande parte da frente do maxilar superior. De cor negra, exceto nos cães de pelagem chocolate, marrom ou de fundo branco com malhas dessas cores, nos quais o nariz de coloração marrom é permitido.
ORELHAS- Grandes, em forma de “V”, inseridas na parte mais posterior do crânio. Em consequência da pele solta, a inserção de sua raiz é variável. Quando o cão em atenção, a inserção é alta, atingindo a linha superior do crânio; estando o cão em repouso, a raiz é baixa, dobrando-se a orelha para trás, de modo a verse seu interior. São permitidas as orelhas caídas de cada lado (“orelhas molosso”) e as dobradas para trás e para cima (“orelha de rosa”).
OLHOS- De tamanho médio a grande, em formato amendoado, bem afastados; de inserção média e profunda; coloração do castanho escuro ao amarelo, sempre em relação à cor da pelagem. Devido a pele solta, muitos exemplares apresentam pálpebras caídas, detalhe que não deve ser considerado falta, pois aumenta o aspecto triste do olhar típico da raça.
MORDEDURA-DENTES- Os dentes do Fila não são altos, destacando-se porém na largura. Incisivos superiores de pontas afiladas, caninos, pré e molares muito fortes. Mordedura em tesoura ou torquês.”. (VALLE, & MONTE. O Grande Livro do Fila Brasileiro (Quatro Séculos da História do Brasil). Editora Brassels-wallace. RJ. 1981. páginas 75 e 76).
O que se pode constatar de diferenças entre os padrões oficiais de 46 e 76 são os seguintes aspectos:
1) O aspecto da cabeça, ou seja, a figura geométrica mudou de quadrada para trapezoidal. O aspecto quadrado do focinho não foi mantido em 76.
2) A tipificação da cabeça como braquicéfala do padrão de 46, não foi mantida no padrão de 76.
3) O crânio em 46, estreitava-se um tanto abruptamente ao iniciar-se o focinho e em 76, aproximava-se do quadrado, estreitando-se ao iniciar o focinho.
4) A relação crânio-focinho em 46, era descrita como sendo o focinho mais curto do que o crânio, mas sempre em harmonia com este. Em 76, O comprimento do focinho é de 40% do comprimento total da cabeça.
5) A linha superior do focinho não foi descrita pelo padrão de 46. Em 76, o padrão descrevia a linha superior do focinho como sendo reta, admitindo-se o focinho romano.
6) A coloração dos olhos era definida, em 46, como escura ao passo que em 76, o padrão descrevia a coloração do castanho escuro ao amarelo, sempre em relação à cor da pelagem.
7) A mordedura permitida em 46 era exclusivamente em tesoura enquanto que no Padrão de 76, permitia-se a mordedura em tesoura e em torquês.
Os demais aspectos foram mantidos pelo padrão de 76 em relação ao padrão de 46 em seu teor, com leves diferenças de redação, como na descrição das orelhas, narinas, stop e occipital.
Novo padrão oficial da Raça Fila Brasileiro foi elaborado e aprovado em 1983, em um congresso de âmbito nacional que reuniu mais de 30 criadores no Hotel Glória do Rio de Janeiro. O padrão 225/FCI, de 1º de janeiro de 1984, assim descreveu a cabeça do Fila Brasileiro:
“EXPRESSÃO: Em repouso é calma, nobre e segura. Nunca apresenta olhar vago ou de enfado. Em atenção, sua expressão é de determinação, refletida num olhar firme e penetrante.
CABEÇA: Grande, pesada, maciça, sempre em harmonia com o tronco. Vista de cima, o aspecto é periforme, inscrito num trapézio. Vista de perfil, o crânio e o focinho guardam a proporção aproximada de 1:1, sendo o focinho ligeiramente menor que o crânio.
CRÂNIO: De perfil, mostra suave curva, do stop ao occipital, que é bem marcado e saliente, notadamente nos filhotes. De frente, é largo, amplo, com a linha superior ligeiramente arqueada. As faces laterais descem em curva, quase vertical, estreitando-se para o focinho, sem fazer degrau.
STOP: Visto de frente, é, praticamente, inexistente. Sulco sagital em suave ascendência até, aproximadamente, a metade do crânio. Visto de perfil, é baixo, inclinado e, virtualmente, formado pelas arcadas superciliares muito desenvolvidas.
FOCINHO: Forte, largo, profundo, sempre proporcional ao crânio. Visto de cima, é cheio sob os olhos, estreitando-se, muito levemente, até o meio, alargando-se, também levemente, até a curva anterior. Visto de perfil, a linha superior é reta ou levemente romana, nunca ascendente. A linha anterior é quase perpendicular à linha superior, com ligeira depressão logo abaixo do nariz, e seguindo para a linha inferior por uma curva perfeita dos lábios superiores, que são grossos, pendentes, sobrepõem-se aos inferiores, definindo a linha inferior do focinho, quase paralela à superior, terminando com a comissura labial sempre aparente. Lábios inferiores: bem ajustados ao maxilar, da ponta do queixo até os caninos, soltos daí para trás, com as bordas denteadas. Focinho de boa profundidade na raiz, sem ultrapassar o comprimento. Na oclusão dos lábios, a rima labial se delineia em forma de “U” invertido, profundo.
NARIZ: Narinas de cor preta, largas, bem desenvolvidas, sem ocupar toda a largura do maxilar.
OLHOS: De tamanho médio a grande, em formato amendoado e bem afastados, de inserção média a profunda; a coloração vai, do castanho escuro ao amarelado, sempre de acordo com a pelagem. Devido à pele solta, muitos 11 exemplares apresentam pálpebras caídas, detalhe que não deve ser considerado falta, pois aumenta o aspecto triste do olhar típico da raça.
ORELHAS: Grandes, grossas, em forma de “V”. Largas na base, estreitando-se na extremidade arredondada. Inserção inclinada, com o bordo anterior mais alto que o posterior, na parte mais posterior do crânio, na altura da linha média dos olhos, quando em repouso. Quando em atenção, a base eleva-se acima da inserção. Portadas caídas de lado ou dobradas para trás, mostrando o seu interior.
DENTES: Caracterizam-se pela maior largura em relação à altura. São fortes e claros. Os incisivos superiores, largos na base e afilados na ponta. Os caninos são poderosos, bem inseridos e afastados. A mordedura ideal é em tesoura, sendo admissível a mordedura em torquês.
PELE: Representa uma das características rácicas mais importantes. É grossa, solta em todo o corpo, principalmente no pescoço, onde forma pronunciadas barbelas, estendendo-se, em muitos casos, pelo peito e abdome. Alguns exemplares apresentam uma dobra nas faces laterais da cabeça e também, na cernelha descendo até o ombro. Com o cão em repouso, a cabeça não apresenta rugas; quando excitado, na contração para erguer as orelhas, a pele do crânio forma, entre elas, pequenas rugas longitudinais.”. (PINHO, Harisson & PANAGIOTIDIS, Carlos. Acervo documental dos autores).
O padrão oficial de 1984, o Padrão 225 CBKC/FCI, apresentou importantes e significativas diferenças em relação aos padrões oficiais anteriores. A primeira, é a inclusão da característica racial típica representada pela “EXPRESSÃO”, calma, nobre, segura e de determinação, com olhar firme e penetrante. Além dessa, outras diferenças, não menos importantes, em relação aos padrões oficiais anteriores podem ser constatadas a seguir:
1) Este padrão definiu de forma mais precisa a relação crânio-focinho como sendo a proporção aproximada de 1:1, sendo o focinho ligeiramente mais curto, diferente do primeiro padrão que definia o focinho apenas como mais curto, sem estabelecer quanto e diferente do segundo padrão que estabelecia uma proporção de 40% do comprimento do focinho em relação ao comprimento total da cabeça.
2) O aspecto da cabeça foi melhor descrito, em relação aos padrões anteriores, definindo-a como periforme, ou seja, forma de pera inscrita num trapézio, quando vista de cima.
3) A descrição da vista de perfil não sugere nenhuma forma geométrica, nem do focinho, como descrito no primeiro padrão, nem do crânio e nem do conjunto da cabeça pois, a linha superior do crânio é descrita com suave curva do stop ao occipital, a linha superior do focinho pode ser reta ou romana (com suave curva), excluindo qualquer possibilidade de paralelismo dessas linhas superiores.
4) A flacidez dos lábios superiores, descrita nos padrões de 46 e 76 foi excluída do padrão 225 de 84, na medida em que a compreensão da anatomia canina, permite concluir que os lábios são formados por músculos e pele, possuindo funcionalidade, tanto para o exercício do trabalho como para sobrevivência do Fila Brasileiro.
5) A coloração do nariz sofreu em 84 mudança significativa, permitindo apenas a cor preta e redefinindo sua dimensão pela alteração do texto dos dois 12 primeiros padrões: de ocupando grande parte da frente do maxilar superior para sem ocupar toda a largura do maxilar.
6) O padrão 225 de 84 aprimorou a redação da descrição das orelhas dos padrões anteriores, redefinindo a inserção e a espessura. Excluiu a obviedade do caimento de cada lado e a expressão “orelhas de rosa”.
7) Com relação aos dentes, o padrão de 84, aprimorou a redação dos padrões anteriores, redefinindo a mordedura permitida como sendo a mordedura em tesoura e apenas admitindo a mordedura em torquês.
Cabe salientar que a exclusão da expressão “orelhas de rosa”, conceitualmente, pode ser compreendida no Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC que assim descreve as orelhas em rosa:
“ É uma orelha de ereção bem peculiar. Uma parte da orelha, a base, é parcialmente fechada e projeta-se para trás, fazendo uma primeira dobradura no sentido longitudinal do couro; há ainda outra dobradura, dupla, no primeiro terço. Nas cabeças dolicocéfalas a orelha “cola-se” (projeta-se bastante próxima) às laterais do pescoço; já nas cabeças braquicéfalas é portada lateralmente. Quando em atenção, somente o primeiro terço se eleva e o restante do couro pende inerte para os lados e para fora. Ex.: Bulldog, Deerhound, Greyhound, Whippet, Wolfhound Irlandês. (CBKC. Manual de Estrutura e Dinâmica. RJ.2013. p. 62).
A pesquisa comprovou que as raças caninas, dolicocéfalos e braquicéfalos presentes na citação, que se caracterizam por esse tipo de orelhas, apresentam tamanho pequeno e espessura fina. Portanto, as incongruências e as permissividades dos dois primeiros padrões foram corrigidas, na medida em que todos descreviam as orelhas como grandes, acrescida a espessura grossa neste último.
A única alteração de conteúdo no padrão 225 de 2004 em relação ao de 1984, foi a retirada do texto relativo à prova de temperamento e alterações na formatação visual.
O padrão oficial de 04/10/2016 apresenta ajustes de formatação visual, além de incluir a preferência por olhos mais escuros ao texto original. A descrição da região facial foi separada em: descrição do focinho e descrição dos lábios, sem alterar o seu teor. A mordedura foi redefinida como sendo permitida, exclusivamente, a mordedura em tesoura. A mordedura em torquês, admitida anteriormente, tornou-se falta.
As igualdades constatadas no estudo comparativo dos padrões oficiais, permitem concluir que a cabeça do Fila Brasileiro sempre foi e continua sendo: grande, pesada e maciça. O stop é praticamente inexistente quando visto de frente e marcado pelas arcadas superciliares quando visto de perfil. O sulco sagital ascende suavemente até a metade do crânio. O crânio é largo. O focinho é forte, largo e profundo com a linha anterior quase perpendicular à linha superior. Os lábios superiores são grossos e pendentes, sobrepõemse aos inferiores. Os lábios inferiores são bem ajustados ao maxilar, da ponta do queixo até os caninos, soltos daí para trás, com as bordas denteadas. As orelhas são grandes em forma de “V”, inseridas na parte mais posterior do crânio. O occipital é bem marcado, notadamente nos filhotes. Os olhos são de tamanho médio a grande, em formato amendoado e bem afastados, de inserção média a profunda. Devido à pele solta, muitos exemplares apresentam pálpebras caídas, detalhe que não deve ser considerado falta, pois aumenta o aspecto triste do olhar típico da raça. Narinas largas, bem desenvolvidas.
RESULTADOS
A seguir, a tabela 1 com o resultado das medidas realizadas nos cães vivos.
TABELA CRANIOMETRIA
CORRELAÇÃO DE ABREVIATURAS:
CC COMPRIMENTO DO CRÂNIO
CF COMPRIMENTO DO FOCINHO
CTC COMPRIMENTO TOTAL DA CABEÇA
LCM LARGURA DO CRÂNIO MÁXIMA (ARCOS ZIGOMÁTICOS)
LCA LARGURA DO CRÂNIO NAS ARCADAS SUPERCILIARES
LFR LARGURA DO FOCINHO NA RAÍZ
LFM LARGURA DO FOCINHO NA PORÇÃO MEDIANA
LFA LARGURA DO FOCINHO NA PORÇÃO ANTERIOR
PFM PROFUNDIDADE DO FOCINHO NA MANDÍBULA (SEM CONSIDERAR OS LÁBIOS)
PFL PROFUNDIDADE DO FOCINHO INCLUINDO OS LÁBIOS SUPERIORES
MOR MORDEDURA (TE = TESOURA. TO= TORQUÊS, PS= PROGNATA SUPERIOR, PI= PROGNATA INFERIOR).
LSF LINHA SUPERIOR DO FOCINHO VISTA LATERAL (RE= RETA, RO= ROMANA)
IC INDICE CEFÁLICO
Os números coletados e registrados na tabela 1, referem-se aos cães vivos e estão apresentados em milímetros (mm), uma vez que, o equipamento utilizado nas medições se constituiu em um paquímetro digital de precisão até os centésimos de milímetros. O espaço na tabela acima preenchido com (-), significa que por razão de força maior não foi possível estabelecer aquela medida. A média encontrada em cada trecho da cabeça é apresentada pela correlação de abreviaturas, corresponde à média aritmética do total de cães. A variância, apresentada pela abreviatura (VAR), corresponde ao cálculo prévio e necessário para o cálculo do desvio padrão, apresentado pela abreviatura (DP). Variância e desvio padrão são medidas de dispersão que indicam a regularidade de um conjunto de dados em função da média aritmética. Desta forma, o IC (Índice Cefálico) obtido, em cães vivos, pela presente pesquisa foi 52,64mm ± 2,87, onde (± 2,87) é o desvio padrão.
A seguir, a tabela 2 com os resultados das medidas dos crânios exumados, considerando apenas as medidas necessárias para o cálculo do IC, onde (CTC) corresponde ao comprimento total da cabeça e (LCM) corresponde à largura do crânio máxima, entre os arcos zigomáticos.
As medidas coletadas e registradas na tabela 2 acima, estão expressas em milímetros e o equipamento utilizado foi o mesmo das medições em indivíduos vivos. O IC médio encontrado foi 53,40mm ± 3,63. Este é, portanto, o IC da Raça Fila Brasileiro. A diferença encontrada no IC médio entre crânios e indivíduos vivos é insignificante, menor que 1 milimetro e está dentro do cálculo do desvio padrão. A diferença da largura média dos crânios e dos indivíduos vivos mostra-se, também, dentro do cálculo do desvio padrão. Nas medidas do comprimento total da cabeça, a diferença explica-se pelos pontos de medição diferentes entre crânios (próstio) e indivíduos vivos (ponta da narina).
Figura 5. Os 7 crânios exumados para este estudo. Acervo fotográfico dos autores
DISCUSSÃO
A presente pesquisa comprovou que o Fila Brasileiro é um mesaticéfalo e não um braquicéfalo como o primeiro padrão racial oficial descreveu. Nessa mesma direção, e fundamentando o presente artigo, (SCHIMMING & PINTO E SILVA,2013) assim argumentam:
“ Todos os valores foram comparados com dados da literatura. Embora a denominação das mensurações, dos índices e/ou das proporções possam diferir do apresentado por alguns relatos, os pontos utilizados e medidos correspondem aos usuais apresentados na literatura. Os índices obtidos nos crânios mesaticéfalos são comparados com os índices obtidos em crânios de cães de raças definidas e calculadas por outros autores. (…) Evans, cita o índice cranial médio para o tipo de crânio mesaticéfalo como sendo 52 mm.”. (SCHIMMING, Bruno Cesar & PINTO E SILVA, José Ricardo de Carvalho. Craniometria em cães (Canis familiaris). Aspectos em crânios mesaticéfalos. Publicação da Universidade de São Paulo. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 50, n. 1, p. 5-11, 2013.).
Os pontos de medição adotados no presente artigo para o estudo da morfometria, são os pontos definidos no Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC e coincidem com os pontos de medição de (HOFMANN APOLLO, 2009) e por (SCHIMMING & PINTO E SILVA, 2013). Com relação à classificação dos cães e aos mesmos pontos de medição, observa-se que:
“Em relação ao crânio, o cão doméstico apresenta três tipos de conformações sendo o mesaticéfalo, o braquicéfalo e o dolicocéfalo com diferenças na forma, tamanho e estrutura (comprimento intermediário, curto e longo da cabeça, respectivamente). Dentre eles, os braquicéfalos apresentam as maiores variações estruturais no crescimento da mandíbula e maxila podendo levar a vários graus de mal oclusão dentária, dificuldade para se alimentar, desgaste desigual dos dentes e perdas dentárias, sendo estas características altamente prevalentes em cães destas raças (…) as raças braquicéfalas possuem forma craniana anormal, com pronunciada desarmonia estrutural. (STOCKARD,1941). Por apresentarem crescimento rápido e prognatismo inferior 16 relativo, pressupõe-se uma maior predisposição a alterações temporomandibulares, alterações de ajuste e assimetria craniana. (DICKIE; SULLIVAN,2000.)” Citado por (HOFMANN APOLLO, Fernanda. Estudo Comparativo da Forma do Crânio de Cães Braquicefálicos e Mesaticefálicos Por Meio de Técnicas de Morfometria Geométrica em Três Dimensões. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. SP 2009. p.26.)
Pelo exposto, uma das maiores incongruências do primeiro padrão racial oficial foi descrever a cabeça do Fila Brasileiro como braquicéfala com mordedura em tesoura. Nessa medida, a hipótese construída no presente artigo, comprova-se: O Fila Brasileiro não é braquicéfalo e sim um mesaticéfalo.
Ainda segundo (STOCKARD, 1941), o índice cefálico é igual à largura do crânio vezes 100, dividido pelo comprimento total da cabeça. A largura do crânio medida entre os arcos zigomáticos e o comprimento da cabeça medido do occipital à ponta do focinho. Os índices obtidos por STOCKARD giravam em torno dos seguintes números: Braquicéfalos com IC igual ou acima de 81mm; Dolicocéfalos com IC igual ou abaixo de 39 mm e Mesaticéfalos com IC girando em torno de 52 mm. Esses referenciais quantitativos são apresentados por (HOFMANN APOLLO, 2009, p. 34). A observação das imagens ilustrativas, abaixo, permite concluir que o stop bem marcado está presente nos braquicéfalos, o que não coincide com nenhuma descrição oficial do Fila Brasileiro.
Disponível em:
https://www.google.com.br/search?q=cabe%C3%A7a+braquic%C3%A9fala&espv=2&biw=1366&bih=66 2&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiCvZPBh4bRAhVDQ5AKHRT8BJAQsAQIIg&dpr=1 #imgrc=O0bJMrVFECJWEM%3A
Continuando a análise e discussão dos dados coletados nos cães vivos, será abordada a relação entre o comprimento do focinho com a profundidade do mesmo. Os pesquisadores preocuparam-se em estabelecer duas medidas para a profundidade do focinho, uma (PFM) que corresponde à profundidade do focinho, medida na raiz e do osso nasal à mandíbula, e outra, (PFL) que corresponde à medida na raiz do focinho, do osso nasal à linha inferior do lábio superior. A tabela 1 de craniometria apresentada na página 13 do presente artigo, permite concluir que na média aritmética dos valores coletados referentes à profundidade do focinho, medidos na mandíbula (PFM), o valor encontrado foi 101,61 mm ± 8,33 e a média encontrada para a profundidade do focinho medida na linha inferior do lábio superior foi 140,17 mm ±14,85 para uma média do comprimento do focinho de 115,49 mm ± 7,32. Desta forma, a profundidade do focinho, em média, medida na mandíbula e de acordo com o Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC, página 63, “ o Eixo vertical ou altura do focinho: é a medida que vai da cana nasal à parte inferior da mandíbula, na sua região mais volumosa. ”, não ultrapassou o comprimento do focinho conforme descrito pelo padrão oficial atual, o padrão 225 CBKC/FCI. Contudo, a pesquisa revelou exceções como constatados nos indivíduos identificados pelos números: 19,21e 36. O indivíduo 19 apresentou a (PFM) 2,01 mm maior que o (CF), O indivíduo 21 apresentou a (PFM) 5,24 mm maior que o (CF) e o indivíduo 36 apresentou a (PFM) 1,80 mm maior que o (CF). Considerando o número de indivíduos que apresentaram a profundidade do focinho, medida na mandíbula, maior que o comprimento do focinho, apenas três, este número inclui-se na margem de dispersão do desvio padrão: (PFM) ± 8,33 e (CF) ± 7,32.
Quanto à medida da profundidade do focinho, considerando o lábio superior, esta revelou-se ser, em média, superior à média do comprimento do focinho com os seguintes valores encontrados em média: Comprimento do focinho (CF) 115,49 mm ± 7,32 e (PFL) 140,17 mm ±14,85. Nenhum indivíduo apresentou profundidade de focinho, medida do osso nasal à linha inferior do lábio superior, menor que o comprimento do focinho.
Do exposto, pode-se concluir que as morfometrias em vertebrados como os cães domésticos devem considerar os tecidos ósseos, pois a medida de tecidos como músculos e pele, como é o caso dos lábios, pode ser pouco precisa, superficial, pessoal, parcial e subjetiva, não sendo esses os referenciais seguidos pelos autores do presente artigo. Além disso, todos os estudos científicos morfométricos de cabeças em cães, consideram apenas os tecidos ósseos.
Seguindo com a análise e interpretação dos dados coletados, a pesquisa revelou que apenas um indivíduo, identificado pelo número 9 da tabela 1 de craniometria apresentava prognatismo, todos os demais apresentavam mordedura em tesoura. Neste caso específico, os pesquisadores não puderam estabelecer nenhuma correlação dessa mordedura com o IC desse indivíduo, pois haviam outros indivíduos com IC’s até maiores que apresentavam mordedura em tesoura. Além disso as medidas da cabeça desse indivíduo número 9 assemelham-se aos demais. Portanto, pode tratar-se de má formação da mandíbula.
Figura 8. Mordedura em tesoura.
Disponível em: http://www.seubuldoguefrances.com.br/2010/09/tiposde-mordeduras-em-caes.html
Disponível em:
http://www.seubuldoguefrances.com.br/2010/09/tipos-de-mordeduras-em-caes.html
Na relação crânio-focinho, analisada pelos dados coletados, observou-se o (CC) comprimento do crânio, em média de 141,97 mm ± 6,53 e (CF) comprimento do focinho de 115,49 mm ± 7,32. Todos os exemplares medidos, apresentaram focinho menor que o crânio. Desta forma, compreende-se melhor o que o padrão racial oficial, o padrão 225 CBKC/FCI quer dizer quando estabelece na descrição relativa à cabeça: “Vista de perfil, o crânio e o focinho guardam a proporção aproximada de 1:1, sendo o focinho ligeiramente menor que o crânio.”. Portanto, o comprimento do focinho não deve ser igual ao comprimento do crânio, como a presente pesquisa comprovou, a proporção de 1: 1 é apenas aproximada. O “ligeiramente menor que o focinho” pode ser interpretado por preferências pessoais das mais diversas, contudo, segundo o filósofo australiano David Chalmers, citado por (PANAGIOTIDIS, 2016, p. 4) e por (GIL, 2002. p. 168), “ Opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas não tem lugar na ciência. A ciência é objetiva. O conhecimento científico é conhecimento confiável porque é provado objetivamente.”.
Segundo o Manual de Estrutura e Dinâmica da CBKC, nas páginas 35 e 36, os cães dolicocéfalos apresentam IC mais baixo, pois necessitam de velocidade e constituem características desse tipo de cabeça: “ crânio estreito e comprido(…); testa muito inclinada e destacada, com crista interpariental muito evidente e occipital muito proeminente; focinho muito longo; (…) arcos zigomáticos rasos e sem destaque na cabeça; stop imperceptível; mordedura típica em tesoura.”. Os cães braquicéfalos apresentam IC mais elevado pois necessitam de estabilidade e constituem características desse tipo de cabeça: “ (…) focinho sensivelmente mais curto que o crânio; stop abrupto e sempre muito bem marcado; mordedura geralmente prognata ou em tesoura invertida”. Os mesaticéfalos apresentam IC intermediário e são capazes de aliar velocidade com estabilidade. Constituem características destas cabeças:
“ Comprimento do crânio geralmente equivalente ao dobro da largura, ou ligeiramente menor; occipital marcado, mas nem sempre projetado; crista interpariental de desenvolvimento moderado; testa evidente, mas não muito inclinada; focinho de comprimento igual ao do crânio, ou ligeiramente inferior; arcos zigomáticos projetados sem exagero; stop moderado, mas nem sempre perceptível; mordedura geralmente em torquês ou tesoura.”. (CBKC. Manual de Estrutura e Dinâmica.2013. p. 35).
As incongruências da primeira descrição racial oficial na tipificação da cabeça como sendo braquicéfala com mordedura em tesoura e stop praticamente inexistente, quando a cabeça é vista de frente, ficam evidenciadas. Os braquicéfalos necessitam de estabilidade pois, “ A estabilidade geométrica corporal é conhecida como simetria(…). Pode-se considerar como simétrico qualquer organismo que possa ser dividido, ao longo de pelo menos um plano, em duas metades perfeitamente iguais. Caso isso não possa ser feito, dizemos que o organismo é assimétrico.”. (HOFMANN APOLLO, Fernanda.p.26.). A assimetria das cabeças braquicéfalas não é encontrada no Fila Brasileiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa, fundamentada nos mais rigorosos princípios científicos, comprovou a hipótese construída, o Fila Brasileiro sempre foi e continua sendo um cão com a cabeça do tipo mesaticéfalo. Referenciais científicos anteriores à redação do primeiro padrão racial oficial, comprovam o que o presente artigo confirmou com a metodologia da craniometria e a construção do Índice Cefálico do Fila Brasileiro: 53,40mm ± 3,63.
A metodologia da craniometria mostrou-se aplicável, também, em cães vivos, desde que seus referenciais teóricos e práticos sejam rigorosamente seguidos. Desta forma, foi possível estabelecer o índice cefálico desses indivíduos como sendo: 52,64mm ± 2,87. A diferença constatada entre as medidas dos crânios e dos indivíduos vivos, mostrou-se na média, insignificante, menor que 1 milimetro e pode ser encontrada nos estudos de diversos autores, na literatura técnico-científica.
Com os resultados deste estudo, compreende-se melhor a funcionalidade desse tipo de cabeça em um cão molossóide. O padrão racial oficial descreve o galope, desde 1976, como sendo poderoso, no qual alcança velocidade insuspeita, em cães de tal porte e peso. A funcionalidade da cabeça mesaticéfala do Fila Brasileiro, permite a ele não apenas a aliança da velocidade com a estabilidade, mas como também, as súbitas e rápidas mudanças de direção tão necessárias no exercício do seu efetivo trabalho. As súbitas e rápidas mudanças de direção na movimentação do Fila Brasileiro são facilitadas não apenas pelas razões já demonstradas por (PANAGIOTIDIS, 2016. p. 8) como, também, pelo tipo de cabeça.
A forma do crânio é um dos critérios mais importantes utilizados para se determinar o padrão racial, assim como uma das principais afirmações na avaliação das características raciais de cães puros é a craniometria.
A Raça Fila Brasileiro merece novos estudos científicos a seu respeito. Novas pesquisas, que se utilizem de métodos diferentes dos que aqui foram adotados, são bemvindas. Contudo, por se tratar de pesquisa experimental, com métodos, referenciais teóricos, quantitativos e equipamentos de precisão consagrados pela comunidade científica, aqui utilizados, se repetidos em qualquer raça canina, deverão propiciar a classificação do “Tipo” pelo índice cefálico, contribuindo para a anatomia canina comparada e o meio cinófilo em geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1) Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023/2002; NBR 6024/2003 e NBR 6028/2003. ABNT. Rio de Janeiro, 2003.
2) CBKC. Manual de Estrutura e Dinâmica. Conselho Cinotécnico da CBKC. 4ª edição. CBKC. 2013, RJ. Elaborado por Claudio Nazaretian Rossi e revisado por Jayme Martineli. Disponível em: http://www.cbkc.org/pdf/manual_ed.pdf . Acesso em: 01/07/2016.
3) CBKC, Padrão Oficial da Raça Fila Brasileiro. Padrão 225/FCI de 04 de outubro de 2016. Disponível em http://www.cbkc.org/padroes/pdf/grupo2/filabrasileiro.pdf. Acesso em: 04/11/2016
4) GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. Ed. Atlas. SP. 2002
5) HOFMANN-APPOLLO, Fernanda. Estudo Comparativo da Forma do Crânio de Cães Braquicefálicos e Mesaticefálicos Por Meio de Técnicas de Morfometria Geométrica em Três Dimensões. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. SP 2009. Disponível em: file:///C:/Users/User/Pictures/Fernanda_Hofmann_Apollo%20(2).pdf . Acesso em: 09/07/2016
6) MACHADO, Thaís Fernanda S., FERRIGNO, Cássio Ricardo A., STOPIGLIA, Ângelo João, PINTO, Ana Carolina B.C.F. Revisão anatômica do seio venoso sagital dorsal no crânio de cães braquicéfalos. Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, área de concentração em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade de São Paulo (USP). Brasil Pesq. Vet. Bras. vol.27 no.5. Rio de Janeiro. May 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 736X2007000500002 . Acesso em 09/07/2016.
7) MARTINS, Jorge Santos. O Trabalho com Projetos de Pesquisa. Ed. Papirus. SP. 2002.
8) PANAGIOTIDIS, Carlos. Julgando a Movimentação do Fila Brasileiro. ( A Diversidade de procedimentos técnicos no julgamento da movimentação da Raça Fila Brasileiro em exposições caninas). Brasília. 2016. Disponível em: http://cbrfilabrasileiro.wix.com/cbrfb . Acesso em: 17/07/2016
9) SCHIMMING, Bruno Cesar & PINTO E SILVA, José Ricardo de Carvalho. Craniometria em cães (Canis familiaris). Aspectos em crânios mesaticéfalos. Publicação da Universidade de São Paulo. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 50, n. 1, p. 5-11, 2013. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/bjvras/article/view/55818 . Acesso em: 09/07/2016
10) VALLE, Procópio de & MONTE, Enio. O Grande Livro do Fila Brasileiro: (Quatro séculos da História do Brasil). Ed. Brasels – Wallace. RJ.1981.
APÊNDICE 1. Instrumento elaborado pelos autores para a coleta e registro dos dados.